
Por Michelle Amorim
Durante uma viagem de metrô, o paulistano se depara com um rapaz trajando um terno com um corte bem definido, uma calça jeans skinny e um saudoso tênis all-star. O que torna a cena incomum é o fato de este rapaz ter os olhos destacados por uma forte linha preta. Realçando um olhar penetrante, muitas vezes afoito para saber o que os outros pensam daquele que quebrou os padrões do normal e resolveu ser singular.
Sem se importar com opiniões alheias, o músico Olavo Zynski, 27 anos, diz que o ato de usar maquiagem faz parte de um rosto atrativo. “Acho que enriquece o visual”. Conhecido como Midnight na cena roqueira de São Paulo, Zynski não se considera um metrossexual. Quebrar a barreira entre o masculino e o feminino é a definição que o músico atribui ao termo. “Usar maquiagem só me faz ser um homem vaidoso e que gosta de ter estilo.”
Assim como Midnight, o operador gráfico Pedro Pasquale, 21 anos, não dispensa lápis de olho e pó quando sai com os amigos. Funcionário de um jornal do ABC Paulista, Pasquale adota um visual mais discreto no dia-a-dia. “Não que eu não possa trabalhar com maquiagem, minha área é bem liberal, mas eu prefiro não usar. Mas brincos, piercings e tatuagem estão sempre à mostra”, afirma ao mostrar sua onça tatuada no braço direito.
O desejo de buscar novas formas de ser atraente não é recente entre os homens. No Egito Antigo, a maquiagem era item essencial ao embelezamento, independente de sexualidade. À base de hena, homens e mulheres se adornavam para diversas ocasiões. O fato curioso é que até os cadáveres dos faraós eram maquiados. Segundo a crença egípcia, ao ressuscitar, os governantes precisariam estar impecáveis.
Já no século XX o estilo foi associado com o homossexualismo. Bandas de rock como Kiss e Secos e Molhados inspiravam jovens que, por meio da maquiagem, expressavam seus ideais e comportamento. Apesar de hoje não ser tão difícil encontrar homens maquiados, trajando roupas estilosas, os acessórios ainda são encarados com preconceito. “É tudo ‘viadinho’! Se meu namorado usasse seria uma vergonha sair com ele”, preconiza a estudante de administração, Adriana Velasco, 19 anos.
Ela acredita que o fato de o homem usar maquiagem poderia revelar desejos inconscientes. “Acho que é psicológico, se o cara tem esse tipo de comportamento, talvez ele queira se afeminar aos poucos até se tornar uma mulher”.
Mesmo enfrentando uma cultura machista, os garotos que usam algum tipo de maquiagem não se abalam. Além de complementar o visual, Pasquale acredita que a pintura facial deixa homens e mulheres mais atraentes. “Maquiagem é um ato ousado. Garotas gostam disso”.
Apesar disso, ele não se considera um metrossexual. “Sou relaxado com outras coisas. Acredito que meu lance é massagear o ego”. Além do lápis preto, Pasquale usa rímel e kajal indiano, um lápis com traço mais forte que pode ser facilmente esfumado e transformar-se em sombra.
De acordo com a revista de economia Forbes, nos Estados Unidos, mais de US$ 4,8 milhões foram gastos com maquiagem masculina em 2007. Isso representa um aumento de 42% em relação a 2001. Aqui no Brasil, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosmético, essa indústria quadriplicou em cinco anos. Um número considerável em uma sociedade machista.
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